A segunda metade do ano se inicia em clima de grande expectativa, tanto no Brasil quando no planeta como um todo. Eleições, agenda legislativa, conflitos, diplomacia e economia darão o tom nos próximos meses.
Eleições municipais - as eleições municipais serão o ponto alto da política no semestre. Em especial nas capitais, os partidos trabalharão duro para ganhar terreno. A “joia da Coroa”, São Paulo, assiste a uma disputa acirrada, com um empate triplo nesse exato momento - o prefeito Ricardo Nunes (MDB), apoiado por Jair Bolsonaro (PL); o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), escudado pelo presidente Lula (PT); e o apresentador José Luiz Datena (PSDB), que tenta se colocar como uma espécie de terceira via. Correm por fora, o coach Pablo Marçal (PRTB) e a deputada federal Tábata Amaral (PSB). O resultado na capital terá reflexos sobre a sucessão presidencial, em 2026.
Eleições nos Estados Unidos - a disputa sucessória na terra de Tio Sam marcará um novo momento na história do país. A polarização ora em curso deverá ganhar ainda mais força. De um lado, existe a possibilidade de retorno do republicano Donald Trump ao comando da nação, mas a entrada da atual vice-presidente, a democrata Kamala Harris, alterou a dinâmica eleitoral. Resta saber qual será o papel do presidente Joe Biden no jogo.
Venezuela - o imbróglio eleitoral na Venezuela terá sequência, com resultados imprevisíveis. O presidente Nicolás Maduro dificilmente cederá às pressões internas e externas, enquanto a oposição insistirá na tese de fraude. A comunidade internacional seguirá fazendo seus movimentos e, nesse caso, a posição do governo brasileiro será de fundamental importância. A cautela do Planalto precisará ser superada em algum momento em breve, e a carta assinada por trinta ex-chefes de Estado, endereçada a Lula nessa segunda-feira, 5 de agosto, reforça a percepção que o presidente da República precisará aumentar a pressão sobre Maduro.
Planeta em guerra - dois conflitos seguirão seus cursos, com escassas possibilidades de um entendimento que encerre os embates. De um lado, a Rússia de Vladimir Putin não dá sinais de que deixará a Ucrânia, em uma invasão que já dura mais de dois anos. De outro, o conflito de Israel e Netanyahu com o Hamas ganha escala, com a entrada em cena do Hezbolah, aliado do Irã. O Oriente Médio continuará pegando fogo.
G20 - principal fórum de cooperação econômica internacional, o G20 está sob a presidência temporária do Brasil até o final do ano. O grupo desempenha um papel importante na definição e no reforço da arquitetura e da governança mundiais em todas as grandes questões econômicas internacionais. Esse ano estão em discussão temas como os conflitos pelo mundo, saúde, agricultura e a busca de um planeta sustentável. O último evento em 2024 será a reunião de Cúpula, em novembro. Trata-se de excelente oportunidade para o país se apresentar como importante player para a comunidade internacional.
Agenda legislativa - em função do ciclo eleitoral, o Congresso Nacional funcionará no antigo esquema dos esforços concentrados - uma semana por mês. A agenda, porém, tem matérias muito importantes, como os projetos da regulamentação da reforma tributária, segurança pública, desoneração da folha de pagamento, dívidas dos estados, funcionamento de cassinos, além de uma “pauta verde”.
Economia - de acordo com diversos economistas, os Estados Unidos têm cerca de 25% de chances de entrar em recessão em breve. A possibilidade já causa estragos nos mercados financeiros mundo afora, com bolsas despencando desde a sexta-feira, 2 de agosto. No Brasil a situação não é diferente, inclusive com o dólar atingindo picos de valor. Mais um desafio para o Planalto e a equipe econômica, em uma crise externa afetando a todos.
Banco Central - no final do ano haverá troca de guarda no Banco Central. O atual presidente, Roberto Campos Neto, encerrará seu mandato e será substituído. O diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, é hoje o favorito para assumir o comando da instituição, mas o presidente Lula ainda não bateu o martelo. De todo modo, os atritos entre a diretoria do BC e o Planalto deverão ser superados.
Vale - a Vale igualmente terá mudança em seu comando. São quinze nomes na lista, e nota-se aqui uma disputa no governo. Os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Alexandre Silveira (Minas e Energia) querem emplacar um aliado. Importante observar que os dois tiveram atritos recentes, quando da demissão do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, aliado de Haddad.
André Pereira César
Cientista Político