Na quarta-feira, 12 de fevereiro, o Brasil parou para assistir ao confronto entre facções criminosas e policiais na Zona Norte do Rio de Janeiro. Mais do que impressionar, as imagens assustam. A violência domina o cotidiano e não só nos grandes centros urbanos, mas também em cidades de pequeno e médio portes (vide o chamado “Novo Cangaço”). O crime organizado, cada dia mais forte, representa hoje talvez o maior problema do país.
A rigor, a questão da segurança pública sempre esteve em destaque, mas os últimos eventos - e não só no Rio de Janeiro - elevaram ainda mais a fervura. O tema, por sinal, reforça o ambiente de polarização e oportunistas de todo tipo tentam pegar carona na crise. No auge do confronto de quarta-feira, o deputado Nikolas Ferreira (PL/MG) publicou em suas redes pesadas críticas ao prefeito Eduardo Paes (PSD/RJ), questionando o fato do governo municipal bancar um show da cantora Lady Gaga, deixando o combate à violência em segundo plano.
A resposta de Paes foi rápida e igualmente dura. Ele afirmou que o governador Cláudio Castro (PL/RJ), correligionário de Ferreira, não havia movido um dedo nem se manifestado sobre o ocorrido. De fato, o chefe do Executivo estadual foi visto, poucas horas depois, assistindo a uma partida de futebol no Maracanã. Descaso?
Aqui entra a questão das competências. São os governadores aqueles que tratam da segurança pública, pois detém os comandos das polícias civil e militar. É evidente e cada vez mais urgente, porém, a necessidade de uma colaboração efetiva entre os governos Federal, estaduais e municipais, e também dos três Poderes. Até agora, no entanto, não há um mínimo consenso.
Exemplo dessa falta de entendimento está no debate em torno do pacote de segurança pública, coordenado pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. A proposta está sendo elaborada há meses, mas já é rechaçada por diversos governadores, em especial os de declarada oposição ao governo Lula (PT), como Ronaldo Caiado (União Brasil/GO), Romeu Zema (Novo/MG), Jorginho Mello (PL/SC), Tarcísio de Freitas (Republicanos/SP) e Cláudio Castro, além de parlamentares - não somente da oposição mas também alguns da base aliada. Um nó difícil de ser desatado.
A opinião pública, de seu lado, acompanha o problema com atenção e apreensão. A mais recente pesquisa do instituto AtlasIntel aponta a segurança pública como a maior preocupação dos brasileiros. De acordo com o levantamento, 58% consideram esse o grande problema do país, à frente da corrupção (49%) e da economia/inflação (29%). O eleitor manda seu recado.
Por fim, há ainda o elemento econômico em todo esse processo. O Brasil perdeu, no último ano, R$ 468 bilhões com o mercado ilegal de produtos, comandado pelas mais diversas facções. Trata-se de um aumento de 20% em relação a 2020. Esse mercado, importante lembrar, financia o crime organizado.
A questão é séria e precisa ser abordada com seriedade. Somente palavras e boas intenções não são suficientes. São necessários projetos factíveis, além de recursos financeiros, trabalho de inteligência e colaboração mútua. Do contrário, nada mudará - e o eleitor cobrará sua fatura nas eleições do próximo ano.
André Pereira César
Cientista Político