“Dois patinhos na lagoa, vote Afif 22”. Esse foi o clássico mote da primeira campanha presidencial do PL, no já longínquo (e inesquecível) ano de 1989. Naquela época, o partido tinha como comandante seu fundador, o diplomata e deputado federal Álvaro Valle, que faleceu no início de 2000.
Não houve vacância na presidência da legenda. De imediato, assumiu Valdemar Costa Neto, então deputado federal. Tendo como base política o município de Mogi das Cruzes (SP), conhecido pelo apelido de “Boy”, ele foi deputado federal por seis mandatos, inclusive sendo o líder da bancada. Virou rapidamente o Kaiser da legenda.
Pragmatismo é a palavra que define o mandante do PL - participou de diferentes governos, de Itamar Franco aos dois primeiros mandatos de Lula, passando por Temer e, claro, pelo neoaliado Jair Bolsonaro, ainda hoje no PL. Muitos caminhos trilhados. Mas e depois?
Para lembrar, Costa Neto foi protagonista de dois eventos marcantes da história política contemporânea. No Carnaval de 1994, apresentou o então presidente Itamar à modelo Lilian Ramos, o que gerou um grande escândalo midiático. Depois, envolvido no chamado esquema do Mensalão, renunciou ao mandato de deputado federal, em 2005, mas acabou preso - e posteriormente teve seu nome envolvido em outro escândalo, o da Lava Jato.
Chegamos aqui a Bolsonaro. Eleito presidente pelo nanico PSL - hoje União Brasil após a fusão com o DEM -, ele abandonou a legenda e, em uma espécie de leilão, buscou um partido ao qual poderia se abrigar. Costa Neto apresentou as melhores propostas e o “contrato” foi selado, mas com prazo de vida limitado, diga-se.
Aqui se atinge o ponto fulcral da história. Ao aceitar Bolsonaro no partido, Costa Neto cedeu muito em questões fundamentais para a legenda. O então presidente e seu entorno, em especial seus filhos, tentaram tomar conta do processo, gerando stress junto a antigos membros e filiados realmente ideológicos. O estrago estava feito.
O resultado apareceu logo. Bolsonaro perdeu a eleição para Lula (PT), evidentemente em uma eleição disputadíssima. É claro, o PL fez a maior bancada na Câmara dos Deputados mas, mesmo assim, o partido carece de organicidade. E o cenário não se repetiu nas eleições municipais de 2024.
O partido projetava conquistar mil prefeituras, mas atingiu apenas a metade. Pior, em capitais de relevo, foi derrotado, o que mandou um claro sinal a todos - o eleitor médio caminha ao centro, esvaziando o discurso bolsonarista mais radical.
O que virá a partir de agora? Inelegível, Bolsonaro pode se tornar uma pedra no sapato do PL, pois, para sua própria sobrevivência, o ex-presidente precisa ter o protagonismo e estar à frente do partido para não cair no ostracismo. Valdemar Costa Neto sabe disso e, desse modo, tende a se afastar do até então aliado.
Mirando em Gilberto Kassab, que comanda com mão firme o PSD, Valdemar certamente tentará retomar as rédeas de sua legenda, de olho em novas e fortes lideranças de direita, para que não seja apeado do comando, a exemplo do que aconteceu com o seu amigo Luciano Bivar que, após uma manobra de seu pupilo Antonio Rueda, foi afastado de suas funções e hoje se vê à própria sorte. A conferir.
André Pereira César
Cientista Político