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Política em ebulição

Apesar de “encaixotados” entre dois feriados grandes, os últimos dias têm sido marcados por movimentos importantes na cena política brasileira. Denúncias, prisões, mudanças partidárias, muito há a ser observado e comentado envolvendo governo e oposição.

Lupi e INSS - a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União apontaram a existência de um suposto esquema de desvio de recursos em descontos de beneficiários do INSS. O caso, que resultou na demissão do presidente do órgão, tem como figura central o ministro da Previdência, Carlos Lupi, que havia sido informado do caso ainda em 2023. Aqui começa mais um imbróglio político para o governo, pois o comandante da pasta é também o presidente nacional do PDT - e trata-se do único ministério ocupado pela legenda, uma das mais fiéis da base. Caso Lula afaste Lupi, como ficará a relação do partido com o Planalto? Dois pontos a observar. O primeiro é que o tema é politicamente sensível e envolve milhões de aposentados e pensionistas, com potencial para afetar negativamente a imagem do titular do Planalto e, a depender do trato dado ao caso, pode vir a influenciar as eleições de 2026. O segundo é que o suposto esquema teve início no governo de Jair Bolsonaro (PL), e antigos colaboradores da gestão anterior podem ter seus nomes envolvidos nas investigações.

Respiradores - em outra frente, a Polícia Federal descobriu indícios de desvio de recursos pagos pelo Consórcio Nordeste para a compra de respiradores, durante a pandemia. O caso atinge o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), ex-governador da Bahia que à época presidia o consórcio. Mais desgaste para o Planalto, que precisa apagar esse incêndio.

Collor preso - o ex-presidente Fernando Collor (sem partido) foi preso e encaminhado a um presídio de Maceió (AL). O caso, que teve início em 2015, é oriundo da operação Lava Jato e foi referendado pelo Supremo Tribunal Federal. Alegando problemas de saúde (Parkinson e Transtorno Afetivo Bipolar), a defesa solicita sua transferência para prisão domiciliar, o que está sendo analisado pelo relator, ministro Alexandre de Moraes. Para alguns observadores, a questão pode abrir um precedente sobre o julgamento de Bolsonaro.

Intimação de Bolsonaro - o ex-presidente Bolsonaro, mesmo internado, recebeu duas intimações. A primeira foi do Supremo Tribunal Federal, referente a abertura da ação penal sobre a suposta tentativa de golpe em 2022. A segunda partiu do Tribunal Superior Eleitoral e trata da condenação do caso envolvendo a reunião com embaixadores também em 2022, no Palácio da Alvorada. A pressão sobre o ex-mandatário só aumenta.

Emendas - em resposta ao fato de o pedido de urgência para o projeto da anistia não entrar em pauta, o líder do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (RJ), ameaçou romper o acordo de líderes e repassar ao partido boa parte das emendas de comissão da Casa. A fala do parlamentar expôs entendimentos internos e desagradou a seus pares. Mais ainda, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, pediu explicações ao deputado, que corre o risco de ficar isolado.

O poder de Davi - em bom momento com o Planalto, o presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União Brasil/AP), anunciou que apresentará em breve um projeto alternativo ao da anistia. Em linhas gerais, a proposta permite a individualização das penas impostas aos envolvidos no 8 de janeiro e, em tese, esvazia o texto apoiado pelo PL na Câmara.

Partidos em movimento I - o União Brasil e o PP estabeleceram uma federação partidária para os próximos anos. A princípio, os presidentes do União, Antônio Rueda, e do PP, senador Ciro Nogueira (PI), comandarão o combo, que terá expressiva força numérica nas duas Casas e, também, nos estados e municípios. Resta saber como será a harmonia entre dois grupos tão diferentes entre si - há muitas arestas por aparar.

Partidos em movimento II - já o PSDB e o Podemos caminham para a fusão. Para os tucanos, que já foram a maior bancada da Câmara e perderam relevância nos últimos anos, trata-se de um momento de refundação.

Considerações finais - passado o feriado do Dia do Trabalho, o mundo da política terá desafios de monta a enfrentar. Em meio a crises reais ou potenciais, espera-se que a agenda legislativa com reformas estruturantes, econômicas e sociais, entre em campo.

André Pereira César

Cientista Político

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