O Brasil na Ásia - Política - Hold Assessoria

O Brasil na Ásia

O pragmatismo norteia a viagem do presidente Lula (PT) e sua comitiva ao Japão e ao Vietnã. As duras medidas que estão sendo anunciadas pelo republicano Donald Trump e o recrudescimento do embate entre os EUA e a China geraram a necessidade do Brasil (e outros países) de buscar novos mercados. Fugir da dependência total das duas potências globais, eis o mote.

A agenda é comercial e diplomática. Espera-se o avanço nas negociações para abrir os mercados japonês e vietnamita às carnes bovina e suína brasileiras, a intensificação das discussões por um acordo entre o Mercosul e o Japão e a venda de aeronaves da Embraer.

Há um problema na questão do acordo Mercosul-Japão, também no radar do governo brasileiro. A questão diz respeito ao argentino Javier Milei, que trabalha para minar o bloco, até agora com sucesso.

No âmbito diplomático, Lula defenderá o multilateralismo e tentará mostrar que o Brasil pode ser um importante player na nova configuração mundial. Nesse sentido, as reuniões com o imperador japonês - ele recebe apenas um chefe de Estado por ano - e com os primeiro-ministros dos dois países podem ganhar importância adicional.

Há ainda o caráter simbólico da viagem, a primeira do presidente brasileiro ao exterior em 2025. Lembremos que o Japão tem uma grande comunidade no Brasil, bem como centenas de milhares de brasileiros moram na Terra do Sol Nascente. Uma boa relação, sem dúvida.

No plano político brasileiro, a viagem merece três observações. Em primeiro lugar, Lula deve aproveitar o longo voo de ida e volta para conversar com os presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos/PB), e do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União Brasil/AP), sobre a agenda governista, em especial o projeto de isenção do IR para quem recebe até cinco mil reais.

Além disso, sabe-se que Alcolumbre está de olho na cadeira do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD/MG), que também integra a comitiva. Alguma chance de entendimento entre os dois?

Por fim, Lula levou o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP/AL), e o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB/AL), ambos pertencentes a grupos opostos na política alagoana - na verdade, adversários inconciliáveis. Teria o presidente da República capacidade de juntar os dois para uma conversa?

A política vive de simbolismos. A primeira fotografia da comitiva presidencial em solo japonês sinaliza a força política em torno de Lula. Ao que tudo indica, o pacto pela governabilidade solicitado pelo presidente aos líderes dos partidos na última semana, está sendo colocado em prática.

Como se vê, a viagem para a Ásia, para além das questões comerciais e econômicas, pode ter impacto no cenário interno. A conferir.

André Pereira César

Cientista Político

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