Faltando poucos dias para a retomada dos trabalhos ordinários do Congresso Nacional, é grande a expectativa, nos mundos político, econômico, na sociedade civil e também na imprensa, quanto aos rumos da sucessão nas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. A rigor, tanto o deputado Arthur Lira (PP/AL) quanto o senador Rodrigo Pacheco (PSD/MG) deixarão - deixaram - legados importantes e, a partir de agora, espera-se que seus sucessores mantenham o ritmo. Conseguirão?
A princípio, Câmara e Senado teriam disputas com enredos distintos. Entre os deputados, a percepção inicial era a de que ao menos três candidatos competitivos se colocariam no processo sucessório, todos com reais chances de êxito. No entanto, o cenário mudou na Casa, ao menos aparentemente.
Poucos meses atrás, havia uma clara divisão entre os partidos de centro-direita, com as potenciais candidaturas dos deputados Antonio Brito (PSD/BA), ligado ao onipresente e cada vez mais poderoso Gilberto Kassab, e Elmar Nascimento (União Brasil/BA), aliado de primeira hora de Lira e supostamente apoiado pelo Planalto. Dada a evolução dos fatos, o jogo mudou.
Sentindo os riscos no ar, Arthur Lira costurou e amarrou a candidatura do deputado Hugo Motta (Republicanos/PB), relativamente jovem porém experiente parlamentar. O jogo parece ter dado certo, pois diversos partidos, do PL ao PT, passando pelo centro (PSD, União Brasil e MDB, diga-se), entre outros, fecharam o apoio a seu nome. Salvo um grande - enorme - acidente de percurso, a disputa parece definida.
No Senado, por outro lado, tudo segue como sempre, sem grandes novidades. Apoiado pelo presidente Pacheco, Davi Alcolumbre (União Brasil/AP), ex-comandante da Casa e atual czar da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), caminha a passos largos para a vitória. A exemplo do que ocorre com Motta na Câmara, ele recebeu o apoio declarado das mais diversas legendas.
Dito isso, no plano político, o governo Lula (PT) agradece. Os riscos de ruídos no Parlamento, com possíveis sequelas no Planalto, estão afastados. Um novo Severino Cavalcanti ou um novo Eduardo Cunha não deverão se repetir.
Também os demais cargos nas duas Mesas, as presidências das comissões permanentes e as novas lideranças partidárias chamam a atenção de todos. Trata-se de um processo que demanda muita negociação, e ao final nem todos os envolvidos saem satisfeitos.
Agora, abordemos o passo seguinte, as (necessárias) reformas, desde sempre debatidas e aguardadas. Há muito a ser feito, de fato. A regulamentação da reforma tributária, tema central para o país, aguarda conclusão. Para além disso, temos outros temas sensíveis. Falamos aqui da proposta de emenda constitucional que trata dos Precatórios, da (eterna) reforma administrativa, da agenda climática - em ano de COP30 em Belém (PA), lembremos - e da sempre difícil agenda social. Muita coisa a ser feita em meio a um contexto de incertezas aqui e lá fora.
O ano de 2025 será de enormes desafios. Um novo mundo, com a volta do republicano Donald Trump ao poder nos Estados Unidos, as guerras na Europa e no Oriente Médio - apesar do recente acordo de cessar-fogo nesse último -, crises climática e imigratória, pobreza e fome. Há muito a ser feito, a partir de nossa casa - e 2026 está logo ali.
André Pereira César
Cientista Político