Engana-se quem acredita que, com o êxito dos partidos de centro nas eleições municipais, a polarização até então em curso no Brasil chegou ao fim. O ataque ao prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), na noite de terça-feira, 13 de novembro, mostrou exatamente o contrário. O quadro segue o mesmo e tende a piorar.
Apenas para relembrar, Francisco Wanderley Luiz, cidadão do município de Rio do Sul (SC), lançou artefatos contra o STF e, ao final, acabou morrendo ao deitar-se em cima de uma das bombas. A Polícia Federal trabalha com a hipótese de terrorismo e o episódio, longe de ser um evento isolado, estaria conectado a outras ações que já estão sendo investigadas.
Segundo as informações até aqui conhecidas, Wanderley, até tempos atrás, era uma pessoa tranquila que teria se transformado em um defensor radical da direita bolsonarista. Disputou uma vaga de vereador em 2020 pelo PL, sem sucesso - obteve apenas 98 votos. A mudança em seu comportamento chama a atenção. Teria o duro embate político entre esquerda e direita nos últimos anos a capacidade de transformar as personalidades de gente comum, até mesmo pacata? Uma questão que transcende a política.
A extrema direita, é claro, afirma que Wanderley seria um “lobo solitário”, que agiu sozinho, e chegou a comparar o caso com a facada que o então candidato Jair Bolsonaro recebeu em Juiz de Fora (MG), durante a campanha presidencial de 2018. Há pontos obscuros, porém. Na mesma noite do ataque ao STF, uma pessoa teria tentado invadir a Granja do Torto, sendo rechaçado com tiros de advertência pela segurança. Haveria conexão entre os dois atos?
Do lado do governo, o presidente Lula (PT) não se manifestou em momento algum sobre o ocorrido, deixando a tarefa para alguns ministros. O ponto baixo aqui foi protagonizado pela primeira-dama Janja, que, durante evento paralelo ao G20, afirmou, em meio a gargalhadas (dela e da plateia), que Wanderley seria um “bobalhão” que se matou por nada. A fala gerou constrangimento, irritou aliados e o próprio titular do Planalto teria ficado contrariado. Provocação desnecessária e sem sentido nesse momento.
Os ministros da Corte Suprema, por sua vez, mais uma vez se uniram em torno da defesa da democracia. Repetindo o pós-8 de janeiro, eles afirmaram em uníssono que não cederão a pressões ou ataques, mesmo que físicos. A temperatura sobe na Praça dos Três Poderes.
Por fim, um tema que poderia gerar muita polêmica, a anistia aos envolvidos no fatídico 8 de janeiro, sai definitivamente de cena. Nem os mais ferrenhos e extremados parlamentares defensores da medida acreditam que ela avance a partir de agora. Um ruído político a menos no horizonte.
O ambiente geral não é bom e não se pode descartar a repetição (ou repetições, no plural) do ocorrido em frente ao prédio do STF. O chamado “efeito demonstração” pode alimentar ódios políticos e estimular novos atos, com resultados imprevisíveis. Outros cadáveres seriam danosos para a democracia brasileira.
André Pereira César
Cientista Político