A direita depois de Bolsonaro - Política - Hold Assessoria

A direita depois de Bolsonaro

“Isso não é um assunto que nós estamos debatendo. Quando a gente fala desse assunto em todo instante, a gente está dando, de novo, a oportunidade de nós ficarmos, na nossa sociedade, dividindo um assunto que não é um assunto dos brasileiros”. A frase contrária ao projeto de anistia aos envolvidos no 8 de janeiro, proferida pelo presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União Brasil/AP), talvez seja a melhor síntese do estado atual do bolsonarismo - movimento que inegavelmente perde força.

Explicamos. O ato de domingo, 16 de março, no Rio de Janeiro, indica claramente que parcela significativa da população não está mais em sintonia com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ao contrário, foi um evento pífio que levou, se tanto, trinta mil pessoas a comparecer para ouvir o ex-titular do Planalto e seus aliados. A projeção dos organizadores, lembremos, era de cerca de um milhão de pessoas. Tiro no pé?

A avaliação corrente, em especial na direita, é a de que Bolsonaro “está perdendo a rua”. Como a política não comporta vácuo, esse quadro leva outros atores do mesmo espectro ideológico a se reposicionarem. Isso explica o discurso de aliados do ex-mandatário, como o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), que ao mesmo tempo em que defende a anistia, de olho nos votos da extrema-direita, já se coloca como potencial candidato à presidência da República, ao criticar duramente o governo Lula (PT).

Mais do que as presenças no ato, chama a atenção as ausências. Não estavam no palanque os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil/GO), Ratinho Júnior (PSD/PR) e Romeu Zema (Novo/MG), hoje pré-candidatos à sucessão presidencial, bem como aliados de Bolsonaro como o senador e presidente nacional do Partido Progressistas, Ciro Nogueira (PI).

Na verdade, as placas já se movem e, dada a perda de popularidade de Lula, nomes alternativos à direita já estão se colocando à mesa. Sempre é importante lembrar que Bolsonaro está inelegível e tem remotas chances de reverter essa situação.

Também será importante observar como a perda de força do bolsonarismo afetará os planos políticos da família do ex-presidente. A curto prazo, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL/SP) pode ser preterido em sua pretensão de assumir o comando da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados. Como se sabe, o deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PL/SP) também está de olho na cadeira.

O desafio para a direita é não entrar dividida no processo sucessório. A fragmentação apenas interessa a Lula - ou ao candidato que ele eventualmente venha a apoiar em 2026.

Enfim, perto do início do julgamento do ex-presidente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro nunca esteve tão fraco. A malograda manifestação no Rio de Janeiro é um retrato negativo para o ex-mandatário.

André Pereira César

Cientista Político

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