Um Conclave no horizonte - Linha de Pensamento - Hold Assessoria

Um Conclave no horizonte

O falecimento do Papa Francisco obriga necessariamente o Vaticano a realizar um Conclave para definir o novo comandante da Igreja Católica. Pelas regras, a reunião deve ter início entre quinze e vinte dias após a vacância no posto - ou seja, começará entre 6 e onze de maio. Até aí, nada de novo.

O resto, porém, está repleto de incertezas. Não se tem a menor ideia, no momento, do perfil do próximo Papa, e não há favoritos. É tudo especulação. Por ora, a fumaça não é branca.

A grande questão é que a Igreja está dividida, com progressistas e conservadores lutando por espaço. Um embate duro se desenha, o que pode inclusive atrasar a escolha do novo Pontífice.

Aqui entra, como pano de fundo, o cenário de forte polarização global, com posições extremistas de parte a parte, o que gera muitos obstáculos para negociação. A busca de um consenso fica dificultada com esse quadro - e a Igreja Católica inevitavelmente sofre os efeitos dessa realidade.

É claro, houve as manifestações de praxe de importantes lideranças políticas, que lamentaram a morte de Francisco. Tudo muito protocolar, como declarações do republicano Donald Trump e da italiana Georgia Meloni, dois expoentes do conservadorismo. Para ambos - e muitos outros - seria interessante a chegada de um conservador ao Vaticano. Simples assim.

Em seus anos de papado, Francisco, é importante lembrar, implementou mudanças de peso na Igreja, como a aproximação com a Igreja Ortodoxa e medidas de apoio aos menos favorecidos, além de ampliar espaços na África e na Ásia. Muito do trabalho do antigo Papa desagradou aos conservadores, que defendem o retorno aos antigos tempos.

Entre essas medidas estão o afastamento da Igreja Ortodoxa e a realização de missas em latim. Essa última, em especial, pode afastar parte do “rebanho” por absoluta falta de interesse nos ritos. Uma Igreja encastelada e mais elitizada?

No Brasil, por sua vez, os católicos vivem outra realidade. Nos últimos anos, a Igreja vem perdendo fiéis, em especial para os evangélicos neopentecostais. As preocupações aqui são de outra natureza, mas, de todo modo, os efeitos da nova liderança também serão sentidos - para o bem e para o mal. Em tempo, o Brasil tem sete cardeais aptos a participar do Conclave.

Para concluir, o Conclave se dá em votação secreta e o número de votos de cada turno não é divulgado. O número máximo de cardeais eleitores é de 120 e, hoje, boa parte desse colegiado foi nomeado por Francisco. Terreno fértil para todo tipo de negociações - e também conchavos e traições. Pura política.

“Habemus Papam?”

André Pereira César

Cientista Político

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