É inegável que o novo cenário global praticamente obriga os países, em especial os mais desenvolvidos, mas não só, a revisarem suas estratégias geopolíticas. EUA de um lado, China de outro, a guerra comercial em curso, Rússia contra a Ucrânia e União Europeia, aumento dos gastos militares e crise climática compõem um quadro repleto de incertezas. Afinal, para onde o planeta vai?
Os números sobre gastos militares são claros. Nos últimos tempos houve uma escalada dos países nesse terreno. Estudo divulgado recentemente mostra que, em 2024, os investimentos em defesa aumentaram 7,4% em relação ao ano anterior. O total dos gastos militares é de impressionantes US$ 2,46 trilhões, maior que o PIB brasileiro. Um recorde.
Alguns exemplos se fazem necessários aqui. Entre os europeus, os gastos subiram 50% em termos nominais de 2014 para cá. A Alemanha, maior orçamento de defesa da OTAN, elevou em 23% desde 2022. A Polônia também registra um crescimento expressivo nesse período.
O caso da Europa explica-se, em larga medida, pela invasão russa na Ucrânia, mas falta aqui uma maior conexão entre política e diplomacia. Putin, como se sabe, teme ter como vizinha uma nação (Ucrânia) “estável, próspera e democrática” nas palavras de Oliver Stuenkel, especialista em relações internacionais. No entanto, é pouco provável que os russos avancem sobre outros territórios.
Já os EUA, com o republicano Donald Trump à frente, segue atuando em sua guerra comercial e, ao mesmo tempo, continua a colocar em prática sua retórica belicista, o que faz, por consequência, com que outras nações “corram” atrás das armas, a exemplo do anunciado gasto militar da União Europeia em mais de 800 bilhões de euros nos próximos anos.
No ideário, quanto mais forte uma nação for militarmente, mais forte se torna para sentar-se na mesa de negociações, sejam elas quais forem. Tanto é assim, que Trump, com a maior potência militar, sem sente tão à vontade que em reunião com o secretário-geral da OTAN, reforçou as ameaças sobre a Groenlândia, território que pertence à Dinamarca, além da já propalada retomada do controle sobre o Canal do Panamá. Irá o americano partir para a ação em algum momento?
Indo além, Trump tem reforçado o discurso sobre a necessidade da Europa gastar ainda mais com defesa, sob a ameaça de parar com a ajuda militar ao continente. No entanto, uma guinada ainda mais forte nesses gastos inevitavelmente afetaria outras áreas críticas, como saúde e educação. A conta simplesmente não fecha.
Quanto à guerra comercial, resta observar se os EUA manterão os recentes “tarifaços” ou se recuarão em algum momento. Países como a China, a Índia e também o Brasil, assim como o restante do planeta se movimentam em busca de alternativas. Novas parcerias poderão ser firmadas em breve.
A história nos ensina que no período entreguerras, muitos países se desenvolveram e uma guerra comercial teve início, inclusive com aumento de tarifas e imposição de sanções comerciais. Ao Japão, por exemplo, foi imposta uma série de barreiras comerciais no intuito de se evitar uma expansão e domínio do Japão de significativa parte da Ásia. Na Europa, o fascismo na Itália, o franquismo na Espanha e o nazismo na Alemanha, se expandiram e durante muito tempo, caminharam livres e sem resistência. Tanto que boa parte da elite europeia e da realeza era, de alguma forma, simpática a esses regimes. O resto, como diz o dito popular, é história.
O mundo atual assiste o crescimento consistente da extrema direita e do radicalismo em todos os lugares. Em alguns países como os EUA, por exemplo, importantes avanços sociais na defesa de direitos individuais e das minorias estão sendo revistos, em evidente retrocesso.
Enfim, o mundo mudou e, aparentemente, essa mudança é para pior. Radicalizações de parte a parte podem tornar o quadro ainda mais tóxico. O tempo dirá.
André Pereira César
Cientista Político
Alvaro Maimoni
Advogado