Há claramente duas visões distintas sobre o estado atual da economia brasileira, uma interna e outra externa. Essas diferentes percepções se materializam em ações e números e, nesse exato momento, ganham relevância inclusive nas decisões do governo.
No âmbito interno, a inflação controlada e o desemprego em baixa, 6,6% no trimestre encerrado em agosto (menor taxa de desemprego para o mês de agosto em toda a série histórica da PNAD, iniciada em 2012), parecem insuficientes para alavancar a visão da opinião pública sobre a administração Lula (PT). Nesse quesito, o governo segue claudicante.
A recém-divulgada pesquisa do instituto Quaest evidencia essa realidade. Segundo o levantamento, realizado entre 25 e 29 de setembro, 51% dos brasileiros aprovam o trabalho do titular do Planalto, enquanto 45% reprovam. Desempenho pífio para um presidente que, em outros tempos, era recordista na aprovação popular.
A pesquisa perguntou, ainda, como a economia do Brasil se saiu nos últimos doze meses. Para 41% dos entrevistados, ela piorou (antes eram 36%). Por outro lado, aumentou também a percepção de que a economia melhorou, passou de 28% para 33%. Só que o dado que mais preocupa o atual governo é o número de pessoas que acham a gestão Lula melhor que a anterior, que caiu treze pontos percentuais. De acordo com a pesquisa, 38% avaliam o atual governo como melhor que o de Bolsonaro, contra 51% em junho. Já 22% acham que o governo Lula está igual ao de Bolsonaro — em junho, eram apenas 8%.
Esses números refletem diretamente a disputa eleitoral. O partido de Lula, o PT, corre o risco de não conquistar uma capital sequer no pleito do próximo domingo, 6 de outubro. Caso isso se confirme - a possibilidade é real -, será algo inédito na história da legenda. Um marco negativo após décadas de êxitos e um sinal amarelo para as lideranças petistas, que precisam rever muito de suas ações. O que está errado? Por que a melhora dos índices sociais e econômicos não são percebidos internamente pela população?
Do outro lado, a percepção e cobertura econômica externa é bem mais realista e, portanto, mais favorável ao país. O exemplo mais recente foi o anúncio da agência de classificação de risco Moody’s, que elevou a nota de crédito do Brasil de Ba2 para Ba1, deixando o país a apenas um degrau do chamado grau de investimento - o selo de bom pagador. Notícia, é claro, comemorada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT/SP), bem como pela equipe econômica.
Indo além, o Brasil preside temporariamente o G20, o que inevitavelmente traz um protagonismo ao governo. Para o bem e para o mal, até o final do ano o presidente Lula estará no centro das atenções, o que vem gerando dividendos não só para o Planalto, mas para o país como um todo.
Enfim, a situação poderia estar melhor? Sim, sem sombra de dúvida. Mas o quadro atual é, de longe, muito melhor do que alguns setores pintam, inclusive e principalmente a classe política e os mercados econômico e financeiro - o país já enfrentou recentes momentos muito mais dramáticos.
André Pereira César
Cientista Político