Em meio às incertezas e desconfianças relativas ao ‘tarifaço’ do republicano Donald Trump, os países buscam alternativas comerciais. No caso do Brasil, além de acordos bilaterais, o cada vez menos relevante Mercosul, o BRICS e a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) representam uma espécie de colchão de segurança. O último bloco, por sinal, registrou recente ação do governo brasileiro.
Aos fatos. Na quarta-feira, 9 de abril, realizou-se reunião de lideranças da Celac em Tegucigalpa, Honduras. Foi uma ocasião para o presidente Lula (PT) tentar, diante de representantes de outros 32 países, demarcar a posição de condutor político regional. Teria obtido êxito?
Em seu discurso, o titular do Planalto deixou clara a posição do país diante das medidas adotadas pelos Estados Unidos. Segundo Lula, sem citar nominalmente Trump, “tarifas arbitrárias desestabilizam a economia internacional”. Indo além, pediu mais união entre os países da região, afirmando que estamos “diante de disputas por antigas hegemonias”.
Registre-se que o petista, ao contrário de outros momentos, seguiu o roteiro que lhe foi passado e evitou o improviso. Em um momento grave como o atual, qualquer palavra fora de contexto pode piorar a situação.
Importante observar que, em contraponto à retórica presidencial politicamente mais dura, os ministros da Fazenda, Fernando Haddad (PT), do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), e das Relações Exteriores, Mauro Vieira, têm mantido uma posição de pragmatismo diante do quadro de hoje, deixando portas abertas às negociações com o governo norte-americano.
Outro ponto importante a observar diz respeito à China, o principal alvo do governo Trump. Em maio próximo, ocorrerá em Pequim reunião ministerial do Fórum China-Celac, que contará com a presença de Lula. Aliás, Xi Jinping saldou o encontro do bloco latino-americano e caribenho, defendendo a unidade do “Sul Global”. São os chineses de olhos abertos para a região, o que incomoda muito os Estados Unidos. Mais uma frente de batalha.
Evidente que a tal “unidade” da Celac não existe. Ao menos dois países membros, a Argentina de Javier Milei e El Salvador de Nayib Bukele, são alinhados ao trumpismo.
Tanto que a declaração final da Celac, divulgada nesta quarta-feira (9), critica “a imposição de medidas coercitivas unilaterais contrárias ao direito internacional, incluindo as restrições ao comércio internacional”, em referência à política agressiva adotada pelo presidente dos EUA, Donald Trump. No entanto, uma nota de rodapé no documento informa que as delegações da Argentina, Nicarágua e Paraguai contestaram essa parte da declaração.
Conforme afirmado no início do texto, o ambiente é carregado de incertezas e desconfiança. O comportamento errático de Donald Trump desafia o planeta. Terá a Celac, composta majoritariamente por nações periféricas, condições de fazer frente aos Estados Unidos? Hoje a resposta seria não, mas as placas tectônicas estão se movendo.
André Pereira César
Cientista Político